Filhos de Bolsonaro vão obedecer pai em 2026, diz Ciro Nogueira

Ciro Nogueira disse também que fala do ministro Barroso sobre inconstitucionalidade de indulto antes de julgamento mudou clima para anistia

Filhos de Bolsonaro vão obedecer pai em 2026, diz Ciro Nogueira

Ciro Nogueira disse também que fala do ministro Barroso sobre inconstitucionalidade de indulto antes de julgamento mudou clima para anistia

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

05/09/2025 11:45 ‧ há 21 horas por Folhapress

Política

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), atribui a uma declaração do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, o clima propício para deflagração do movimento pela anistia aos condenados de 8 de Janeiro -incluindo Jair Bolsonaro (PL).

 

Barroso disse que não existe anistia antes de julgamento, mas que depois passa a ser uma "questão política". A fala foi interpretada por bolsonaristas como um aceno. À coluna Mônica Bergamo, o ministro negou que tenha defendido a ideia de anistia.

Ciro reconhece, porém, ser difícil reverter a inelegibilidade do ex-presidente. Segundo ele, embora os filhos de Bolsonaro protestem contra aliados que busquem se lançar para 2026, vão apoiar quem o pai indicar. Ele defende que essa escolha ocorra em janeiro, e que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é o mais credenciado.

Sobre a precipitação do desembarque do governo Lula (PT), Ciro afirma que agora há um projeto vencedor: "A gente está vendo o porto seguro ali [em 2026]".

PERGUNTA - Davi Alcolumbre (União-AP) falou que vai apresentar um texto alternativo ao PL da Anistia. O sr. sabe que projeto é esse?

CIRO NOGUEIRA - Acho que o tema que tem que ser discutido. Temos que avaliar na Câmara e no Senado. O mais importante é o momento de ser apresentado.

A fala do presidente Barroso é muito dura, que acha que isso não tem que ser discutido antes de terminar o julgamento. O que eu defendia é que votasse na Câmara antes [do julgamento] e logo depois no Senado. Mas vamos fazer o que for mais correto e eu acho que tem que ter esse respeito à fala do presidente Barroso.

A anistia, Davi vai ter que ser obrigado a votar, se a maioria quiser.

P - O presidente da Câmara, Hugo Motta, antes estava resistente, mas agora admite pautar a anistia. O que mudou?

CN - Pode ter passado a ter clima [favorável]. O próprio julgamento, a declaração do presidente Barroso foi muito importante. O Barroso repercutiu muito menos do que deveria repercutir na mídia, me perdoe. Dizer que a anistia é uma decisão política é muito forte.

P - Mas estão se fiando só nessa declaração? Há conversas de bastidor?

CN - Lógico que a gente conversa. Brasília é uma conversa constante. Já falei com diversos ministros, não vou citar nomes.

P - O sr. consultou Bolsonaro sobre essa articulação?

CN - Ele me deu essa missão de lutar aqui e eu vou cumpri-la.

P - Que acordo é esse sobre anistia, o que está sendo conversado?

CN - Não tem acordo. Tem uma luta de uma parte, que acho que é a maioria do Congresso. Por que ninguém tem dúvida que tem maioria para aprovar. Se não, não estariam brigando tanto para não aprovar.

P - Ouvimos que a ideia seria anistia ampla, com Bolsonaro, mas com acordo político para manter a inelegibilidade dele.

CN - Não estamos tratando de inelegibilidade. Ele está inelegível por aquele absurdo daquela reunião de embaixadores. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É muito difícil você conseguir anistiar ele politicamente, eleitoralmente -que era o certo. Eu tenho um projeto para isso, mas acho muito difícil de acontecer, infelizmente.

P - E o ex-presidente está ciente disso?

CN - Está consciente que não vão dar o direito a disputar a eleição.

P - Essa articulação não pode ser considerada uma afronta ao STF?

CN - Não, temos todo o respeito ao Supremo. O STF também tem que ter [pelo Congresso]. Legislar é uma atribuição nossa. O Supremo, quando toma a decisão, até às vezes contra o Parlamento, é afronta? Não considero.

P - O sr. acha que a anistia pode ser aprovada a tempo de Bolsonaro não ir para a cadeia?

CN - Eu espero que seja. Se existe uma pessoa com a saúde debilitada é ele. Sofre o tempo todo com soluço, passando mal, vomitando. Se botarem ele na cadeia, é porque querem matar o Bolsonaro. Eu espero que não exista esse espírito no Supremo, de querer matar o presidente.

P - Bolsonaro já tem um candidato?

CN - Eu acho que tem.

P - É o Tarcísio?

CN - Quem vai dizer é ele.

P - Mas o sr. acha que o papel do Tarcísio nessa articulação o credencia para ser o candidato, inclusive junto à família?

CN - O que mais credencia o Tarcísio é a chance de vitória. A única pessoa que não pode perder essa próxima eleição é o Bolsonaro, e ele não vai arriscar. Tire as conclusões. O Tarcísio é candidato, se tiver o apoio do Bolsonaro. O Lula nem disputa com o Tarcísio.

P - O sr. acha que o Lula nem disputaria?

CN - Você acha que o Lula está falando toda hora em "se eu tiver bem de saúde", expondo o seu maior defeito, por quê? Isso é uma porta de saída para caso o Tarcísio seja o candidato apoiado pelo Bolsonaro.

P - Quando Bolsonaro vai fazer anúncio sobre sucessão?

CN - Defendo que, se ele escolher um dos candidatos, acho que só deveria ser em janeiro.

P - O sr. acha que os filhos de Bolsonaro vão aceitar um nome que não seja da família?

CN - Tu acha que o Bolsonaro vai anunciar um candidato, aí o Eduardo vai ser candidato? O Flávio vai ser candidato? Não vai. Eu não tenho dúvida, vão obedecer o pai. O comando é do pai. O líder é ele.

P - Se houver a condenação do Bolsonaro agora no STF, há uma expectativa de que venham novas sanções.

CN - Critiquei o Eduardo. Ele sabe da minha posição de que defender tarifa contra o Brasil é um erro. Agora, eu também não sei o que faria se meu pai estivesse sendo injustiçado. O grande erro do presidente Trump foi não explicar para o Brasil quem é o verdadeiro culpado: Lula.

P - Bolsonaro é citado mais de uma vez na carta de Trump. Eduardo também fala isso

CN - Mas o real motivo disso foi a política externa [de Lula]. Tinha que ser a favor do Brasil.

P - Eduardo está atuando contra o país?

CN - Por um ponto de vista, lógico, quando você pede sanções contra o país... Mas ele está lutando pelo pai. Volto a dizer, não vou julgá-lo.

P - Até a semana passada o sr. dizia que, para desembarcar [do governo], seria necessário ter aonde ir e que ainda não se tinha isso. O que mudou?

CN - Por mim, não tinha nem entrado nesse governo. Mas agora chegou um ponto que não dá mais. Não vamos estar com o Lula no próximo ano. Agora nós temos um projeto vencedor. A gente está vendo o porto seguro ali [em 2026].

P - O sr. disse a aliados que a EBC teria reproduzido uma reportagem contra o sr., o que não aconteceu. Ela foi assinada por um jornalista que tem contrato com a empresa pública. Isso pesou para antecipar o desembarque?

CN - [Causa] revolta. Me deu mais vontade. Ser acusado por um funcionário do Sidônio [Palmeira, ministro da Secom] é de uma irresponsabilidade. Mas o tempo mostra que é uma fake absurda. E eu não vou culpar os cachorros, não, eu vou atrás dos donos.

RAIO-X | Ciro Nogueira, 56

É presidente nacional do PP e senador pelo Piauí. Foi ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro e deputado federal por quatro mandatos, de 1995 a 2011.

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